Matia, uma menina alta para seus quatorze anos, passa as férias com o primo Borja, de quinze, na casa da avó, uma mulher rígida de classe alta que é uma autoridade na ilha onde mora. Sua mãe morreu há quatro anos, ela não sabe do paradeiro do pai, e traz consigo seu inseparável boneco de pano Gorogó, que a aconchega nos momentos de tristeza. A guerra eclode, uma guerra cujas notícias demoram para chegar e são sempre inexatas. "Uma guerra que parecia fantasmal, longínqua e próxima ao mesmo tempo, quem sabe mais temida porque era invisível."
Pelo olhar singular de Matia, vão se descortinando realidades e descobertas que ela não compreende bem. Sua relação de amor e ódio com o malandro, intrépido e por vezes perverso primo. Seus sentimentos em relação a Manuel, filho mais velho de uma família marginalizada e hostilizada na ilha, um menino de dezesseis anos cujo pai foi assassinado e com quem gosta de ficar de mãos dadas. As palavras que ouve sobre seu pai, que combate na trincheira oposta à da avó. O cotidiano de aulas com o submisso jovem Lauro, os cigarros surrupiados da tia Emília, as histórias que cercam o lendário Jorge de Son Major, as guerras com os outros meninos, suas guerras internas, a guerra na Espanha.
Nesta obra-prima de Ana María Matute, que figura entre os escritores mais importantes da Espanha do pós-guerra, Matia envereda pelos tortuosos e doloridos caminhos da difícil fase da vida em que a casca da infância se rompe e a adolescência explode. "Que estranha raça a dos adultos, a dos homens e das mulheres. Que estranhos e absurdos, nós. Que fora de tempo e lugar. Já não éramos crianças. De repente, já não sabíamos o que éramos."