A Guerra de Canudos foi composta por elementos constituintes da formação da sociedade brasileira: a reivindicação da população humilde por melhores condições de vida e a atuação preponderante da vivência religiosa na definição dos rumos políticos. Daquele caldeirão de sentimentos antagônicos que se formou no interior da Bahia - opondo os fiéis seguidores de Antônio Conselheiro às elites donas de terras e o exército em formação -, eclodiu uma genuína guerra em que muitos perderam suas vidas defendendo seus ideais, conflito que ganharia a marcante narrativa construída por Euclides da Cunha em seu Os sertões. Neste A guerra total de Canudos, o historiador pernambucano Frederico Pernambucano de Mello nos conduz a visualizar os detalhes que compuseram a formação dos corações e mentes que se envolveram na guerra, naquele duro cotidiano de chegadas e partidas, esperança e desespero, perdas e ganhos. A sensação que se tem ao fruir deste ensaio é de estar lado a lado dos homens, mulheres e crianças que viveram aqueles momentos nos quais a luta pela sobrevivência exigia de todos um esforço sem precedentes, tamanha a repressão por parte das forças políticas, comprometidas com a manutenção dos desígnios das elites latifundiárias do sertão baiano. Não é à toa que, ao se debruçar sobre o presente livro, o célebre geógrafo e historiador Manuel Correia de Andrade avalia que na "apreciação das origens do conflito, do meio, das personagens e do fato principal, o autor consegue inovar e ser claro. Inclusive nos aspectos propriamente militares, em que a sua erudição se mostra invejável